Quando lutamos contra algo, entramos em uma corrente e nos unimos aqueles que compartilham de nossas ideias passando a rejeitar toda ideia contrária, que vem do outro lado do muro.
Assim fortalecemos cada vez mais os sentimentos e pensamentos de oposição e ódio contra aqueles que julgamos oponentes e nos alimentamos de todas as energias dos nossos aliados, como se fossem uma espécie de alimento.
E não importa de que lado você está do muro. O mesmo acontece com ambos os lados.
É como se estes alimentos que recebemos nos engordassem emocionalmente nos deixando de certa forma viciados e cegos pela egregora que se forma nesta corrente energética.
Dá para perceber que neste jogo não tem lado bom e lado mau, porque ambos se tornam cegos e viciados, e perdem a consciencia do que seja justo, humano e belo, porque não conseguem mais ver as coisas com isenção .
Entretanto, sempre chega um tempo em que um dos lados vence a disputa e passa a predominar sobre o outro que se torna então obrigado a seguir as regras do vencedor.
Para o lado vencedor vem o relaxamento e o gozo da vitória que elimina as tensões dos combates e restaura as energias trazendo um novo frescor e vitalidade.
Mas do lado perdedor a tensão não tem por onde se descarregar. Muito pelo contrário, agora reprimida ela cresce em silêncio, nos corações magoados que precisam manter a chama da luta dentro de si mesmos, nem que seja para alimentar sua autoestima.
Então, a luta que antes era declarada e aberta começa nos bastidores de forma discreta minando tudo que venha do outro lado, criando uma nevoa negra que continua a alimentar os mesmos sentimentos, impedindo que a visão seja clara. O muro agora é invisível, é tempo de guerra fria.
Neste silencioso combate as forças perdedoras se reorganizam alimentadas pela mesma egregora que não se desfez jamais, enquanto a força vencedora vive seus tempos de glória e de alegrias que substitui pouco a pouco o espaço do ódio que nutria pelo oponente e relaxa suas defesas.
Chega então um novo tempo em que aqueles que haviam sido derrotados já estão fortes bastantes para desafiar o oponente e pegá-lo de surpresa.
A batalha recomeça e o muro torna-se novamente visível.
Pode ser agora o dia da caça …
E se for, novamente forças serão vencedoras e viverão sua gloria e outras serão jogadas na sageta onde começarão a tramar contra os que passaram a comandar …
E o ciclo vem se repetindo a milênios, mudando apenas os motivos, as armas e os meios.
Será que a vida se resume a apenas dois lados, e que tudo que vem do outro lado deve ser descartado?
E se você está numa posição privilegiada, acima das disputas, nem adianta tentar convencer as pessoas a olhar os dois lados porque elas irão lhe acusar de covardia.
Muitos sábios e Mestres vieram nos ensinar a sair deste eterno jogo de forças, mas não lhe demos ouvidos porque eles pregavam o amor e a não resistencia…
Até quando continuaremos neste efeito sanfona que perpetua a luta entres opostos, como eternos inimigos?
Será que não percebemos que a luta se trava dentro de cada um de nós?
Que o inimigo está em nossa vaidade e orgulho e nas formas padronizadas que passamos a ver nos outros, mas que refletem nossa própria natureza interna.
Até quando ignoraremos as palavras dos sábios mestres que viveram neste mundo e demonstraram pelos seus exemplos como alterar as coisas construindo passo a passo uma nova realidade sem excluir aqueles que discordam de nós ?
“Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”
Mas a verdade não é um ato de magia, mas um trabalhoso esforço de investigação com o coração desprovido de julgamento.
João Sergio